sábado, 19 de junho de 2010

Trough Nature´s Inflexible Grace I´m Learning to Live!!!

quinta-feira, 3 de junho de 2010

O GRANDE DIA

O Grande Dia

Terça-feira, dia 01/06/2010,

Acordei tarde, por volta de 9:30 da manhã. Ao abrir os olhos e tomar consciência da realidade novamente, passei alguns segundos tentando avaliar como estaria cada parte do meu corpo. Para a minha surpresa, muito bem até... Estava com uma dorzinha chata no tornozelo direito, a unha direito latejando ainda e as coxas bastante doloridas! Contudo, nada de extraordinário.

Levantei e ao entrar no banheiro para tomar banho me deparei com minha roupa de borracha, ainda molhada, pendurada no Box. Havia desfeito minhas malas na noite anterior, ao chegar da exaustiva viagem de volta, e passado uma água na roupa para tirar o sal e a areia que e ainda estavam afixados na mesma.

Naquele instante, vários flashes e lembranças começaram a permear minha mente. Havia sido um sonho!? Será mesmo que aquilo tudo tinha acontecido? Comecei a sorrir sozinho ainda no chuveiro.

Arrumei-me para o trabalho, com aquele sorriso insistente estampado. Tomei café, desci para a garagem e rumei para o dever. No caminho, mais e mais flashes. Pareciam memórias de algo tão distante. A ficha estava custando a cair, mesmo que algumas vozes sussurrassem no meu ouvido: - É isso aí, rapaz! Você agora é um IRONMAN! Você conseguiu! Foi você mesmo! Parabéns!

Chegando no trabalho, ao entrar na minha sala, logo fui mostrar a linda medalhinha e a foto da chegada para alguns colegas. Estava radiante! Porém, apenas 2 minutos depois, a realidade bateu a porta: - Sílvio, você lembra daquele caso, daquela Licença de Importação que havia sido cancelada? Ta aqui oh! Tem que mandar o ofício pra Gerência de portos e aeroportos... Alegava um colega especialista da pesquisa clínica!

- Sim, claro! Lembro sim! Rsrs ok! De volta ao trabalho... rsrs

Mesmo assim, peguei-me comemorando sozinho durante todo o dia, mesmo que escondido no banheiro do trabalho! Rsrs...

Entretanto, a verdade é que gostaria de dizer milhares de coisas ou ao menos conseguir expressar em palavras o que representou o grande dia, o grande dia 30 de maio de 2010.

Difícil demais. É uma junção de milhares de sentimentos e satisfação por ter alcançado um objetivo tão sonhado e planejado durante meses. Um alívio e ao mesmo tempo uma espécie de vazio ... e agora José!? Rsrs

- Bom, agora, vê se vai descansar um pouco, né Mané!?

Sussurra mais algumas vozes dentro de mim.

Outras, no entanto, já demandam certa vontade de cometer novas loucuras! Vozes, que ao sair do trabalho, já faziam eu sentir até uma certa vontade de ir dar uma treinadinha... parece que já to sentindo falta... rsrs 2 dias depois soh... !! Loucura! Mas é verdade, sai do trabalho com uma vontade de cair numa piscina e ir dar uma nadada... kkkkk!! Realmente, acho que todos tem razão... IRONMAN é uma droga! Só pode! Eu nem consigo explicar ainda o que acabei de passar e todo o sofrimento pra concluir a prova e acho que já to doido pra fazer outro! Rsrsrs... Enfim, Nada de treino! Nadinha! Pelo menos umas duas semanas, Sílvio, fica quieto! Rsrs

No período da tarde, não consegui fazer nada no trabalho. Fiquei vendo vídeos e lendo noticias sobre a prova. Aos poucos a ficha começou a cair. Estranhamente, um nó na minha garganta começou a apertar!

Voltei pra casa, resistindo à tentação da piscina... rsrs

Novamente diversos flashes começaram a fluir na mente. Não vou negar, finalmente, algumas lágrimas rolaram. Eu ainda não acredito, mas ao ver a foto da chegada, Eu no centro com minha mãe e minha namorada ao meu lado. Mãos erguidas. Vitória. Sorriso. Brilho nos olhos. Sim, número 1640! É você mesmo! Era eu ali na foto! Sílvio, você é um IRONMAN!

Refleti um pouco e decidi começar a escrever para poder organizar todas essas lembranças e acho que vai ser interessante tentar contar tudo sobre o grande dia desde o início!

QUINTA - FEIRA – dia 27/05/2010

Já estava tudo pronto. Acordei 5:00 da manhã, tomei banho, peguei todos os trambolhos de triatleta e rumei ao aeroporto. No Check in já me deparei com vários mala bikes e rostos conhecidos de competições em Brasília. Vários atletas daqui participam do Ironman todos os anos.

O Avião decolou as 7:15 em ponto. A escala em São Paulo foi engraçada, dezenas de carinhas com capacetes e camisetas escritas Ironman juntaram-se a nós. Parecia que o vôo estava repleto apenas de competidores numa procissão para o maior evento esportivo da América do Sul. Chegando em Florianópolis, um verdadeiro engarrafamento de mala-bikes tomou conta do saguão do aeroporto.

Aluguei um celta 1.0 e por milagre o mala bike coube na parte de trás do carro com os bancos rebaixados. No caminho para o hotel, em canasvieiras, uma súbita alegria tomou conta de mim! Riso pra todo lado! Não estava acreditando estar ali! Era só felicidade! O dia estava lindo, um friozinho gostoso, mas com um sol magnífico.

Cheguei no hotel, fiz o check in, tirei tudo do carro e fui almoçar. Estava morto de fome. Depois, me dirigi a Jurerê Internacional, um dos bairros mais chicks e caros do Brasil. Local onde estava montada a Chamada “IRONMAN CITY”. Realmente muito legal! Um estrutura nota 10! Exposição show de bola. Muita organização e o Staff todo muito bem treinado! Retirei os kits de prova e fui torrar meu cartão na exposição... rsrsrs

Voltei para o hotel já tarde, quase 5:30 da tarde, e fui preparar tudo. No caminho de volta, avistei o Reinaldo Collucci andando de Bike na minha frente. Ele é um dos principais Triatletas brasileiros e era uma grande promessa e esperança para ganhar essa edição do IRONMAN. Buzinei pra ele e gritei: -Boraaa, Collucci!! Ele acenou e sorriu... Chegando ao hotel montei a Josefina, que deu um trabalhão para tirar as folgas da caixa da frente. Affff. Suei a camisa. E então um grande cansaço começou a me abater. Fui jantar num rodízio de massas, muito bom por sinal, e depois apaguei.

Sexta – Feira – dia 28/06/2010

Dormi muito bem e consegui descansar bastante. Acordei 8:30, tomei banho e fui tomar café. A pousada era muito legal. Tinha um bela vista de frente para o mar. Contudo, notei que o clima começou a fechar e ventava bastante. O mar, entretanto, ainda estava bastante tranqüilo, praticamente um piscinão gigante, que é característico na praia de canasvieiras e Jurerê, onde seria a competição. Torci para que permanecesse daquele jeito.

Muitos atletas já estavam com suas roupas de borracha nadando lá fora e treinando. Eu, no entanto, não estava muito animado ainda. Além do mais, as 10hrs da manhã ia começar o congresso técnico lá no IRONMAN CITY!

Terminei o café, peguei minhas coisas e fui para o tal congresso. No caminho, o que eu temia começou a acontecer: Chuva. Começou fraquinha e foi aumentando. Durante o congresso técnico, o qual foi empolgante ao ver centenas e centenas de atletas, a chuvinha fraca virou um verdadeiro pé d`água!

A previsão para o domingo, dia da prova, era de muita chuva, o dia todo, e muito vento. Deu pra ver na cara de todos no congresso que até mesmo o pessoal já experiente estava um pouco apreensivo com a perspectiva. O próprio presidente da mesa, o organizador do evento, começou a falar no Tal Plano B! que nunca havia sido utilizado, mas que poderia ser uma alternativa caso não houvesse condições de realizar a prova no mar.

O plano B era substituir os 3.8km da natação por 10,5km de corrida e então partir para os 180km da bike e depois mais 42 de corrida. Um riso tenso generalizado de mais de 1500 atletas tomou conta do ambiente.

- Vamos lá gente, 10km é tranqüilo pra... tentou o organizador, mas os risos aumentaram.

Um senhor do meu lado exclamou: - tranqüilo por que não é você que vai fazer, né!? Rsrsrs

Contudo, ele tranqüilizou todo mundo dizendo que nunca havia acontecido de utilizar o plano B e que tal medida só seria tomada caso fosse avaliado que a natação pudesse realmente representar risco para os atletas.

Depois do congresso, fui tentar destruir mais um pouco os meus limites do cartão de crédito na Expo Iron! Rsrs Quando resolvi finalmente que já havia extrapolando demasiadamente, fui almoçar.

Após o almoço decidi dar uma volta em umas praias perto de onde estava. Fui na Praia Brava, Muito linda, e na praia dos Ingleses, que não achei muito interessante. O passeio foi rápido, mas deu pra ver como Florianópolis realmente é uma cidade que foge completamente dos padrões brasileiros. Muito linda, bem organizada, tudo limpinho, ciclovias, estradas excelentes, povo educado, parecia outro mundo mesmo! Lugar perfeito para o Ironman Brasil. Poderia até ter passeado um pouco mais, mas como a chuva não dava um tempo, achei melhor voltar logo pro hotel.

O problema é que eu tinha montado a Josefina na noite anterior e não tinha ainda testado ela. Tive que sair todo empacotado, debaixo de chuva, pra dar uma voltinha de bike. Horrível! Odeio andar de bike na chuva! Mas foi necessário. Ela estava pronta mesmo. 100%.

Ao voltar para o hotel, resolvi dar uma nadada pra soltar os músculos também e me adaptar a roupa de borracha novamente. Enfiei-me rapidamente dentro dela e sai para a praia. O mar, mesmo com a chuva, que agora se transformará em apenas um leve chuvisco, ainda está muito calmo, ainda era um piscinão!

Ao triscar o pé na água, no entanto, um verdadeiro calafrio percorreu todo o meu corpo. Que água gelada meu Deus! Ajeitei o óculos, fechei os olhos e corri pra dentro d´água. É muito gostoso nadar com a roupa de borracha no mar. O Sal ajuda mais ainda a flutuação e a gente nada super confortável. Fui para um lado, para o outro... mas na verdade não sou muito fã de nadar no mar sozinho, sei lá... dá medo... não de afogar... mas eu sempre fico meio grilado, começo a pensar em besteiras, tubarão, algum bicho, uma corrente forte, ou uma rede, um anzol de pescador, afinal a praia estava repleta de pescadores e ainda havia um pier próximo... sei lá... minha mente vai longe! Rsrs

Nadei apenas 10 minutos, acho que uns 500mtrs e de achei melhor cair fora dali logo! Rsrs já tava bom! Deu pra ver como seria no domingo.

Voltei pro quarto, pendurei as roupas molhadas na janela, fui limpar a bike de novo e comecei a preparar tudo para fazer o check in no sábado. Sacola azul, as coisas da bike; sacola preta, da natação; sacola amarela, as coisas da corrida; sacola verde, special needs da bike; sacola vermelha, special needs da corrida... Affff... transtorno, minha cabeça dando um nó... medo de esquecer algo ou confundir tudo... rsrs é coisa demais que você tem que preparar esse troço viu... rsrsrs

Olhei no relógio e já eram 18:15. Fui tomar banho e me preparar, pois as 19:00hrs teria o jantar de massas do Ironman. O jantar foi excelente. Uma delicia! Comi demais mesmo. Sai de lá passando mal de tanto que exagerei, acho que nunca tinha comido um Buffet tão gostoso! Lugar perfeito, comida perfeita. Voltei para o hotel, arrumei o quarto, que estava uma verdadeira zona, e novamente apaguei!

Sábado – dia 29/05/2010

Acordei cedo, pelo menos para mim, que morro de preguiça de manhã, eram 8:30. Rsrs. Olhei pela janela e vi um lindo sol brilhando. As nuvens haviam desaparecido, temporariamente. Tomei banho e fui para o café.

Quando cheguei ao restaurante, que tinha a bela vista para a praia e para o mar, tomei um verdadeiro susto! Aquele calmo e tranqüilo piscinão estava completamente agitado. O clima do dia anterior tinha alterado a maré e o mar estava muito revolto! Ondas fortes batiam contra a parede da varanda do hotel e o vento forte, apesar do sol e do dia claro, não traziam uma boa perspectiva pro domingo.

No restaurante, assim como eu, todos os outros atletas tomavam café perplexos olhando para o mar com uma verdadeira cara de desânimo. A previsão para o domingo ainda era de chuva o dia inteiro e muito vento. Com o mar daquele jeito ali... O temor de que o tal plano B da organização fosse utilizado aplacou a todos.

Terminei o café, coloquei o short flets que usaria na corrida, camiseta, boné e fui dar uma corridinha. 15 minutos, nada de forçar. Voltei, tomei banho correndo, arrumei-me e fui voando para o aeroporto buscar meus dois amores! Minha mãezinha e minha namorada mais linda do mundo que estavam chegando para assistir meu ato de insanidade! Estava super ansioso por rever as duas e morrendo de saudade! Já fazia umas três semanas que não as via.

Jurerê e canasvieiras ficam bem longe do centro e do aeroporto. Achei que ia me atrasar e por mais que tentasse acelerar, acho que a boa educação e a tranqüilidade dos catarinenses, para conduzir seus veículos, deixa qualquer brasiliense, e com certeza outros de cidades mais caóticas, com os nervos a flor da pele! Rsrs Devo ter tomado umas duas ou três multas. Rsrsrs

O Vôo delas chegava às 10:50. Cheguei ao aeroporto às 10:55. Peguei o ticket, parei o carro e sai correndo para o saguão, no caminho parei! Olhei para as mãos. Celular, Carteira, Chave... Uai!? Cadê a P.¨$# do Ticket? Voltei correndo para o carro olhando para o chão e caçando o pedacinho de papel.

Foi quando ao chegar perto do Celtinha, reparei que havia um papelzinho uns 4 metros adiante voando em direção a pista. Corri e agarrei o fugitivo. Ufaaa! Era ele! Meia volta novamente e corre para o saguão.

Ao chegar no desembarque, olhei por entre as portas para as pessoas que ainda aguardavam suas malas na esteira. Lá estavam uma loira e uma um pouco mais alta... rsrs Ufaa novamente, elas ainda estavam lá! Fiquei super feliz ao vê-las.

Quando elas finalmente atravessaram as portas do desembarque meu coração acelerou! Sorriso! Abracei Lets demoradamente e depois minha mãe! Foi ótimo estar com elas e não ficar maluco pensando solitariamente apenas no domingo.

Fomos almoçar num ótimo restaurante em Jurerê e depois passeamos um pouco pelo Open Shopping. O clima começava a esfriar novamente e as nuvens tomaram conta do céu. Em seguida, fomos para o hotel. Minha mãe deitou na cama e apagou. Eu e lets conversamos um pouco e fomos andar na praia. Foi muito bom, mas estava bastante frio e ventava um pouco. A maré ainda estava bem agitada. Na nossa caminhada, para minha surpresa, avistamos novamente o Collucci! Ele estava dando uma entrevista na calçada de uma das casas de frente para a praia. Pensei... rsrs... Coincidência, ele deve estar me seguindo, comentei com lets também... rsrs.

Quando voltamos para o hotel minha mãe já havia acordado e estava com a cara toda amassada de sono! Terminei de arrumar todas as coisas e preparei para ir fazer o Check in na transição. O meu check in era de 19:00hrs até as 20:00hrs. Tentei de todas as formas colocar a Josefina dentro do celta de uma forma que coubesse nos três, impossível! Resolvi ir pedalando mesmo e minha mãe me seguiria. Seria pouco mais de 10km, tranqüilo, uma fez que no dia seguinte ia ter que pedalar 180km mesmo... rsrs

Subi na Bike, e rumei para Jurerê com minha mãe na minha cola dirigindo o celtinha. No caminho havia uma baitas subidas, suei a camisa e minha mãe levando buzinada atrás de mim! Rsrs E como sempre temos surpresas inesperadas, no caminho a vedação de borracha que vai dos manetes até a base do clipe começou a soltar. E meu Cateye, que marca a velocidade e distância, novamente, apagou! rsrs

Chegamos lá, estacionamos o carro e fomos andando para o check in. Fui recebido na transição, após a conferência da bike e do capacete, por uma simpática assistente que me orientou sobre tudo e me dirigiu aos mecânicos de bike, que fixaram com fita adesiva a vedação de borracha e deram um jeito no cateye. Depois seguimos para o meu Slot, onde Josefina ficaria acomodada e toda empacotada com uma linda capa amarela. Era um cenário fascinante. Centenas e mais centenas de bikes juntas.

Segui para a outra tenda de troca. Deixei a sacola preta e azul, da natação e do ciclismo respectivamente, nos lugares específicos e a amarela, da corrida, do outro lado. Tirei algumas fotos daquilo que parecia uma espeficie de armário gigante com milhares de cabides!

Então sai. Comecei a procurar pelas donzelas, que claro, já estavam na Expoiron, gastando seus cartões também! Rsrsrs. O segurança não me deixou entrar, pois já era mais de 7hrs e já haviam fechado a entrada, então aguardei do lado de fora.

Ao saírem, demos uma volta e fomos jantar. Levei-as no mesmo rodízio que havia jantado na quinta-feira. Lá, pedi atenção especial e principalmente muita massa. Os garçons era super legais e atenciosos e, mais uma vez, me empanzinei de tanta massa.

Voltamos para o hotel e então uma sensação estranha começou a tomar conta de mim. Faltavam poucas horas agora para o grande dia. Para a realização de uma jornada que havia começado a muito tempo. Era o dia no qual eu havia sonhado e sonhado. Passado horas e horas treinando e sofrendo para poder estar ali. Eu iria dormir e ao acordar seria o Grande Dia. O Grande Dia que passei a me referir como “Um dia para a vida toda”. Seria meu primeiro grande feito. E Apesar de toda a responsabilidade e determinação que havia posto em cima de mim mesmo por aquele objetivo, estranhamente, estava, surpreendentemente, bastante calmo e tranqüilo.

Conversamos mais um pouco, tomei banho, apaguei a luz do quarto e deitei um pouco ao lado de lets. Abracei-a forte e ficamos juntos alguns minutos, minha mãe já “roncava” ao nosso lado. Rsrs.

Dormi muito bem.

Domingo – dia 30/05/2010 – O GRANDE DIA!

Acordamos 4:30 da manhã. Fazia frio e estava completamente escuro. Já escutávamos os atletas que estavam nos outros quartos saindo, conversando e se dirigindo para o café da manhã.

Ainda na cama, cobri a cabeça abracei lets e disse: - Ahh nem, acho que quero fugir! Vou ficar aqui mesmo debaixo das cobertas!!!

- Negativo, agora já está aqui vai em frente e termina isso. Disse ela sorrindo.

Respirei fundo, tomei coragem e pulei da cama. Tomei um rápido banho pra acordar. Vesti o short de banho, da marca Ironman, que havia comprado da Expoiron, coloquei o Top Flets verde, a blusa de frio por cima e um short! Estava pronto.

Fomos tomar café da manhã. Acho que maioria dos atletas já haviam se alimentado e partido para jurerê. Olhei para o mar decepcionado. Ainda estava bastante mexido. Um pouco menos que no dia anterior, mas definitivamente estava longe de ser aquele piscinão no qual eu alegremente havia me deparado no primeiro dia.

Comi algumas bananas, torradas com geléia de goiaba, mamão e tomei um suco de laranja. Preparei também dois sanduíches de presunto com geléia para colocar na sacola de special needs da bike. Na verdade acho que Lets que preparou pra mim rsrs. No final, contrariando a todas as dicas e precauções sobre evitar lacticínios no café pré prova, resolvi tomar pelo menos uns 3 goles de café com leite bem quente! Ah, meu organismo está acostumado e eu não sou ninguém sem um leite quente ao acordar, pensei! Precisava daquilo pra poder levantar o espírito mesmo, além disso ainda faltavam 2 horas pra largada! Estava tudo bem! Saboreie, então, o café com leite!

Conduzi o Celta para jurerê. Chegando lá, estacionamos e nos juntamos a uma verdadeira procissão de vários atletas e familiares rumo ao check in e a área de transição.

Ao chegar lá, disse para elas me esperarem na saída da transição que eu deveria entrar para fazer a pintura e preparar tudo para o grande dia.

Entreguei as sacolas de special needs nas tendas específicas e entrei na fila para a pintura dos atletas. Novamente, uma surpresa! Lá estava, bem na minha frente, o grande favorito para a prova. A esperança de primeira vitória brasileira no IRONMAN Brasil, Reinaldo Collucci. – Opa! Boa sorte collucci! Hoje esse ironman é seu! Disse sem maledicência e realmente desejando o melhor para ele. Ele agradeceu sorrindo! Sem querer, me senti um pouco contrariado depois. – poxa Sílvio, coitado do muleque, valeu por jogar mais uma última dose de responsabilidade e pressão nas costas do pobre diabo de apenas 24 anos!

Foi malz... Foi de coração! Mas lembrei disso ao saber que ele havia desistido da prova no quilometro 130 da bike! Rsrs... Ops... rsrs... claro que não teve nada haver comigo... mas ainda acho que se tem alguém capaz, digo, um brasileiro capaz, de vencer o IRONMAN Brasil, sem dúvida é ele! Sou fã mesmo e torço por ele!

Bom, voltemos para o menos celebre aqui...

Entrei na transição, pintei os números no corpo e segui para ver a Josefina! Ao retirar a capa amarela reparei que ela sorria para mim, mas estava tão gelada quanto eu!

Passei a mão nela e disse que ia ficar tudo bem! Que era pra ela cuidar bem de mim, pois teríamos um longo dia pela frente! Verifiquei as marchas e as rodas. Ainda faltava encher as garrafinhas de água.

Fui para a tenda de troca e comecei o complicado processo de vestir a roupa de borracha. Vaselina pra todo lado! Puxa daqui, remexe e estica dali, até que minhas pernas estavam finalmente cobertas. Coloquei uma banana, uma bala de sódio eletrolítica e dois repositores energéticos exceed na sacolinha que havia usado para ajudar a passar os pés pela borracha da roupa. Assim como a touca e os óculos de natação.

Coloquei todo o material restante que não ia usar na sacola branca e guardei na tenda de troca.

Fui saindo da área de transição quando lembrei!! PUTZZ!! Esqueci de encher as garrafinhas da Josefina! Nessa hora já faltavam apenas 10 minutos para o fechamento da transição e os organizadores já estavam gritando nos megafones tentando acelerar todo mundo! Meu coração acelerou.

Voltei correndo, peguei uns 8 copinhos de água e corri para a Josefina. Enchi rapidamente a garrafinha de baixo e o AeroDrink. Ufa!! Agora vamos correr. Ao sair da transição me deparei com minha mãe e Lets me aguardando!

Coloquei um gel pra dentro e comecei a chupar a bala de sódio. Estava cada vez mais ansioso, mas não nervoso. Terminei de vestir a roupa, coloquei a touca e os óculos na cabeça.

Começamos a ir na direção da largada pela praia! Nesse momento comecei a ficar muito feliz! Ainda estava tudo escuro e haviam nuvens no céu, mas ao contrário da previsão, não estava chovendo. Alguns metros depois de nossa caminhada na praia, disse para minha mãe e Lets me esperarem um pouquinho. Corri para dentro do mar. A água gelada tocou meus pés.

Eu entrei com tudo e mergulhei. Nessa hora acho que nem senti frio algum. Dei um belo grito, o meu grito de guerra: HURRAAAHHH!!! Debaixo d´água. Algumas braçadas para movimentar os músculos e ajeitar a roupa no corpo e pronto! TUDO PRONTO! Definitivamente pronto!

Voltei para a praia. Agarrei a mãe de Lets e de minha mãe e segui para o portão da largada.

Tiramos algumas fotos. O sol começava a clarear a escuridão e trazia a perspectiva de um belo amanhecer. Abracei minha mãe e Beijei Lets novamente. Elas me desejaram boa sorte e disseram para tomar cuidado e ter juízo! Rsrs Confirmei! Rsrs Segui sozinho para a largada. Faltavam menos de 10 minutos. Começou a tocar o Hino Nacional.

Ao passar pelo portão alguns atletas ainda estavam na água, resolvi colocar os pés no mar novamente. Contudo, subitamente, uma inesperada vontade de fazer xixi tomou conta de mim! – Putz, e agora!? Olhei para a roupa de borracha, olhei para trás, para os lados. Não dava pra tirar a roupa, fora que ia ser muito esparrado! O locutor já pedia para que os atletas se posicionassem atrás das faixas de largada. Fiquei sem saber o que fazer! Pensei: - Putz, nadar 3.8km com vontade de mixar vai ser complicado. Vai dar mais de uma hora segurando. Vai ser muito desconfortável.

Entrei mais um pouco no mar e resolvi mandar ver ali mesmo. Dentro da roupa. Um alívio imediato tomou conta de minha bexiga. Porém, o calor esquentou minha pele por baixo da roupa e o liquido encheu a roupa, que ficou parecendo um balão na região do pubs. Comecei a rir e a passar a mão em direção as coxas. Senti a urina se espalhando e diminuindo a aparência inchada da roupa, mas não haveria jeito daquilo sair dali. Esfreguei ao máximo e tentei espalhar bem. – Pelo menos ficou bem quentinho aqui embaixo! Rsrs pensei. Voltei rindo pra zona de largada.

Os atletas começavam a se espremer cada vez mais, até um ponto que não dava mais nem para levantar os braços. Respirações ofegantes e nervosismo estampado nos rostos de cada um. Olhei para o polar, meus batimentos marcavam apenas 101 por minuto. Fiquei feliz demais. Ainda sim estava super calmo. Inacreditável. Piadinhas começaram a rolar e alguém disse: - Putz, me deu moh vontade de fazer xixi!!! Eu comecei a rir e respondi: -hahaha Eu acabei de fazer, to parecendo um balão, mas pelo menos está bem quentinho!

Alguns riram em volta de mim e na mesma hora ouvi um senhor atrás de mim dizer: - Hehe, Eu também já fiz! E outro... – eu também... e assim por diante. Acho que todos devem passar por isso também! Boa parte dos Ironmans devem entrar na água mixados, pensei! Kkkkkk

Enfim, fechei os olhos, respirei fundo e assim permaneci. Consegui, por milagre, não pensar em nada! Apenas aguardei. Aquele era o dia!

Em um rápido instante lembrei de uma frase importante que havia passado a significar muito e respaldar aquela loucura toda. Uma frase que havia lido numa biografia de Buda. Uma frase que ele havia exclamado antes de alcançar a Iluminação: “deixem-me experimentar o pior tormento e, então, o medo não mais terá poder sobre mim!”

Zoa a estridente buzina de largada e minha jornada começa!

Corri com toda força e determinação para dentro do mar!

Pulei as primeiras ondas, ajeitei o os óculos e mergulhei.

A avalanche humana seguia rumo à primeira bóia, que estava a quase 1000 mtrs da praia. Havia muita gente em volta. alguns batiam nos meus pés e a frente eu dava tapas nos pés de alguém. Passado o ímpeto inicial, tentei me concentrar e controlar a respiração no ritmo que havia determinado que seria o ideal para mim ao longo dos treinos.

Braçada direita, respiração curta, braçada esquerda, braçada direita, respiração longo, braçada esquerda, braçada direita, braçada esquerda respiração média. E assim por diante. Duas respirações para o lado direito, uma curta e outra longa, e uma para o lado esquerdo, média. Tentei não sair desse ritmo em momento algum.

A maré estava agitada, mas a correnteza não estava tão forte. Precisei corrigir o rumo poucas vezes. Rapidamente cheguei na primeira bóia, gigante, 6 mtrs de altura, cor laranja. – É isso aí, mais de ¼ da água percorrido! Muito bom Sílvio, pensei. Contudo, os corpos se afunilaram ao contornar a bóia e a batalha humana começou. Gente puxando os pés dos outros, passando por cima, por baixo, mão na cara, chute. De repente, em uma distração, senti um forte choque na minha cara. Havia levado um belo calcanhar na boca. Aquilo me desconcentrou completamente e percebi que tinha que forçar um pouco pra sair daquele tumulto. Senti o gosto de sangue na boca e passando a língua nos lábios, senti que estes estavam bem inchados e com um corte bem grande.

Fechei os olhos novamente e segui em frente. Aumentei o ritmo pra me livrar da pancadaria. A segunda bóia estava logo a frente, uns 150 mtrs. Deveríamos contorná-la e voltar para a praia. Chegando nela, novamente a avalanche humana criou o caos e a pancadaria recomeçou. Quando achei que havia me livrado do mal, eis que surge um belo soco no meu olho direito que quase arranca meus óculos de natação! – Puta que pariu! Filho da Puta! Exclamei com raiva nessa hora. Arrumei os óculos na cara de novo e rumei para a praia. Levei alguns segundos para conseguir me concentrar novamente.

Mas tudo deu certo, achei melhor nadar sozinho e não ficar na esteira de ninguém. Fechava os olhos com freqüência tentando me concentrar e manter o ritmo. Então, senti a correnteza me impulsionando para frente. Eram as ondas. Havia acabado a primeira perna da natação, 2100 mtrs. Faltavam apenas mais 1700 agora, mas deveríamos percorrer 50mtrs correndo na área da praia antes de seguir nadando.

Coloquei os pés no chão, levantei os óculos e olhei para o relógio, 34minutos!!! Quase gritei de felicidade! Nunca havia nadado tão rápido! Para mim foi um ritmo excelente! Um sorriso estampou minha cara na mesma hora! O dia havia começado perfeito! Sai da água e liguei meus alertas internos. Estava tudo bem! Sem câimbras, braços inteiros, pulmão ok! Estava perfeito! Nem acreditei! Corri pelo corredor preparado aos atletas e no meio do caminho avistei minha mãe e Lets, que gritaram felizes para mim. Agarrei as duas rapidamente e dei um Beijo na Lets. Voltei correndo para o mar.

Agora o Sol já estava no alto e o mar parecia um pouco mais agitado. A correnteza na segunda perna também estava mais forte. Fui com determinação, entretanto.

Duas respirações para o lado direito, uma curta e outra longa, e uma para o lado esquerdo, média. Seguidamente, sem afobação!

Pareceu que estava demorando mais para chegar na terceira bóia dessa vez. A correnteza estava puxando mesmo para o lado direito e tive que corrigir o rumo diversas vezes. Percebi que estava indo bem e que havia muita gente para trás e que havia boa distância entre os atletas agora. No contorno da bóia o caos foi bem menor e nada de extraordinário ocorreu. Ufa! Pensei. Logo cheguei na quarta bóia e em poucos minutos estava na praia novamente. Olhei para o relógio, 1 hora e 4 minutos! Nem acreditei!! Havia superado e muito minhas perspectivas na natação.

Novamente liguei os sensores internos. Tudo ok! Nada de câimbras, estava inteiro, mas agora sim, ofegante. Mesmo assim corri pelo corredor até a área de transição. No caminho avistei novamente minha mãe e Lets, agarrei novamente as duas e dei outro beijo em Lets. Sai sorridente e vibrante.

No meio do caminho para a tenda de troca me joguei no chão onde um grupo do Staff ajudava os atletas a tirar a apertada roupa de borracha. Eles a arrancaram de mim e me entregaram.

Na tenda de troca, o verdadeiro Caos! Custei para achar um espaço para poder me trocar também. Enfiei tudo na sacola de natação que havia usado, a roupa, os óculos a touca. E comecei a retirar as coisas da sacola de ciclismo. Vesti o short de ciclismo, os manguitos pretos, a blusa de ciclismo. Estava difícil vestir com o corpo molhado. Peguei as bolachas e repositores e balas extras. Vesti as meias e a sapatilha de ciclismo. Tentei respirar ao máximo para abaixar meu batimento, que havia chegado a 196 por minuto na natação.

Olhei tudo em volta e pensei acho que é isso! Fui para a saída e no meio do caminho olhei para minhas mãos. – Putz, só estou com uma luva, e putz cadê meus óculos de ciclismo!??

Voltei desesperado torcendo para que a sacola azul ainda não tivesse sido recolhida por alguém do staff. Por sorte ela estava lá. Abri novamente e encontrei a outra luva e os óculos. Ufa! Agora sim.

Rumei para a bike. Lá a Josefina me esperava sorridente. Cheguei e perguntei: - Oiii linda!! Saudades!? Bora passear!? Rsrs

Tirei ela do Slot fui para a saída da transição. No meio do caminho senti que havia algo dentro da sapatilha! Que coisa! Pensei em deixar lá! Seria uma pedra!? Tava incomodando. Achei melhor tirar pra ver, afinal, eram 180km. Era uma bala de sódio que havia caído dentro da sapatilha! Comecei a rir e guardei a bala no bolso da camisa, não sei se a utilizei! Rsrs

Cruzei a linha, montei na Josefina, encaixei o pé esquerdo, conferi as marchas e dei o primeiro impulso!

Havia muita gente na rua torcendo e gritando por nós. Era uma energia fabulosa. Procurei minha mãe e Lets no meio da multidão. Mas não as vi! Bom, vamos lá, agora é eu e você Josefina. Confio em você, não vai me deixar na mão! Vamos determinar um ritmo para a primeira volta, ok!? Quero fazer em menos de 3horas e meia.

Comecei a calcular a cada 5km meu ritmo de prova e tentava mantê-lo. No inicio estava indo muito bem. Tranqüilo, mas num ritmo forte para meu Primeiro Iron. Média de 30km/hr. Sabia que não ia conseguir manter isso os 180km, mas poderia tentar o máximo pelo menos nos primeiros 90km.

Assim, a cada 5km e verificava as médias e recalculava tudo. Logo cheguei na primeira grande subida da Bike. O trecho todo consistia em duas voltas de 90km, com 4 grandes subidas, duas na ida para os 45km e duas na volta. a maior delas variava mais de 60mtrs de altura, o que equivale a um prédio de 20 – 25 andares, mais ou menos. Era puxada sim. Marcha o mais leve possível e nada de me desgastar, pensei.

É um momento muito bonito do trajeto. Você está passando por um conjunto de montanhas, parece um vale. A rodovia é muito bonita e o asfalto realmente é excelente.

Para compensar a subida, a descida foi emoção pura. Não segurei nadinha, marcha mais pesada e sentei a pua! Devo ter passado de 80km/hr com certeza! Muito bom!

Então comecei minha rotina de alimentação. Tomei meu primeiro repositor energético e logo em seguida coloquei uma bala de sódio na boca. Em meio a cálculos e mais cálculos, refletia um pouco sobre os treinos e tentava reproduzir as coisas ali. Lembrei que precisava me concentrar bastante no que havia aprendido ser uma das coisas mais importantes. Era quase um segredo, por que poucas pessoas ou atletas falavam sobre isso ou davam dicas sobre isso. Talvez por esquecimento. Acaba que a gente esquece mesmo. Mas uma das coisas mais importantes de qualquer atividade é justamente a RESPIRAÇÃO!

Sempre que me desconcentrava perdia o ritmo da respiração e sentia meu corpo reclamar instantaneamente. Não podia deixar de trabalhar de forma aeróbica. Se meu ácido láctico começasse a atacar por causa do processo anaeróbico eu já era. Não ia terminar a prova.

Dava com freqüência longas respiradas e sentia o ar fluir por todo o corpo. Limpava com freqüência minhas narinas para não deixar nada obstruindo as entradas de ar. A cada trecho mais plano ou descida eu levantava da bike e alongava bem as panturrilhas. Algumas vezes tirava os pés do taco e alongava as coxas e soltava os músculos da perna.

Após o quilometro 35, cheguei na região dos túneis, e uma ventania começou a atacar os atletas. É complicado. Você pedala, pedala e parece que não sai do lugar também. Mas já estava esperando por isso. Todo mundo havia falado que essa parte era difícil mesmo por causa dos ventos.

Respira Silvio, Respira. Lembrava disso a cada instante. Após vencer os túneis, passei pelo quilometro 60km, olhei para o relógio, que marcava 2hrs de ciclismo! Perfeito, pensei! Estou no ritmo perfeito! Sabia que não dava pra segurar assim mais, caso contrário não iria conseguir correr a maratona depois. Resolvi diminuir um pouquinho só o ritmo.

Comecei então a sentir fome. O que é uma sensação bem desagradável quando você está numa atividade física. Tirei um clube social sabor Bacon e comecei a comer. Já havia comido algumas bananas nos postos, mas não era suficiente. O problema é que comer coisas solidas assim também não é fácil. Ficou tudo ressecado na boca e eu mastigava, mastigava e nunca chegava no ponto de engolir. Tomei um gole de água e forcei pra descer tudo. Horrível, mas ajudou bastante a diminuir a sensação de fome.

Tomei outro repositor por volta do quilometro 70 e terminei que tomaria outros dois, um no 110km e outro nos 150km.

Entrei na região das montanhas novamente e cheguei nas subidas. Ufa cansativo, mas estava bem. Na subida, conversei um pouco com o Cássio. Era o segundo Ironman dele. Ele já era da categoria 40 – 44 anos. Era do Rio de Janeiro e já treinava a um bom tempo, mas disse que estava devagar por que não havia treinado bem e estava ali só para terminar mesmo. Eu afirmei que era o meu caso também. Contudo, acabei deixando ele pra trás e segui sozinho.

Finalmente terminei a primeira volta. por volta de umas 3 horas e 10 ou 15 minutos. Estava ótimo. Não esperava fazer a bike abaixo de 7 hrs e meia, mas agora aquilo havia se transformado em realidade. Pensei: - Poxa, posso conseguir em 7hrs sim! Vou tentar! Mas sem afobação!

Parei no Special Needs da bike. Um garoto do Staff me esperava com minha sacola, na qual havia guardado os sanduíches preparados com carinho pela Lets e uma banana! Estava com fome!

Porém, ao morder o sanduíche, aquela mesma sensação da bolacha me atingiu. Mastiga, mastiga e nada! Seca demais! Tomei água e empurrei pra baixo os pedaços. Comi até pouco mais da metade e guardei a banana no bolso. Resolvi fazer um Pit Stop para fazer pipi. Rsrs

Ao sair do banheiro químico, o Cássio estava acabando de chegar e pegar sua bolsa também. Sorri para ele e disse: - Bom demais esse pit stop né!? Ele sorriu de volta e respondeu: - Ah, com certeza! Tem que ter! rsrs

Despedi-me, subi na Josefina novamente e comecei a segunda volta.

Agora sim percebi que não seria nada fácil. Meu animo já havia realmente diminuído bastante. Todos os atletas estavam bem mais distantes uns dos outros e, sem dúvidas, você começa a sentir uma baita solidão.

Comecei a recalcular tudo novamente e tentar determinar um ritmo. Já não me sentia tão disposto. Ao invés de calcular o ritmo de 5km em 5km, achei melhor pensar em 10km agora. Dos 5km até os 15km deu 25 minutos. 5 minutos a mais do que meu ritmo da primeira volta. Achei que estava bom e que era isso mesmo que deveria tentar manter para não me desgastar demais. 90km com 25 minutos a cada 10km daria 90km em 3 horas e 45 minutos. Somado com as 3 horas e 15 que havia feito... Perfeito! 7 horas! Era muito além do que esperava para os primeiros 180km da minha vida! Rsrs Isso mesmo, porque até então, nunca havia andado isso tudo.

Tentei manter esse ritmo, sem aumentar e sem diminuir. Poderia até ter forçado mais e ter feito em menos tempo, mas não sabia como meu corpo ia se comportar agora. Estava cruzando uma linha que jamais havia cruzado e era melhor respeitar meus limites. Era melhor ser inteligente e me conter ao máximo.

Percebi que para completar aquela prova e para realizar aquilo tudo não bastava traçar apenas um objetivo! Estava agindo corretamente! Era necessário traçar milhares de micros objetivos a cada instante! A cada trecho, a cada período. Eu estava indo muito bem. E meu objetivo agora era manter cada 10km em 25 minutos. Alongando bastante e principalmente respirando muito!

Após cruzar o que me pareceu os Alpes Suíços, dessa vez, fui chegando novamente na região dos túneis e a ventania recomeçou. O Clima também começou a fechar bastante novamente. E depois do quilometro 130, a fome apertou novamente. Comi a banana que havia pegado na sacola de Special Needs e tomei mais um Gel repositor.

Ao passar pelo quilometro 140, olhei para o relógio, 5hrs e 10 minutos de ciclismo. Minha tática estava metodicamente perfeita! Até então havia conseguido manter os 25minutos por 10km de forma espantosa! Rsrs fiquei bastante feliz. Assim ia conseguir fazer nas 7hrs.

Faltavam só mais 40km agora. Nada demais e eu estava cansado, mas inteiro ainda! Contudo, agora que eu ia começar a entrar naquele limite do desconhecido. Não sabia mais o que poderia acontecer, nem como meu corpo iria reagir, tinha que tomar cuidado. Além disso, algo me incomodava, meus pés estavam completamente dormentes e gelados. O vento entrava na sapatilha e fazia subir uma sensação bastante desconfortável. Pra piorar a situação o que todos temiam começou a acontecer, chuva! Começou levei e logo aumentou bastante. Sentia os pingos estourando no capacete e o frio aumentou muito! Principalmente nos pés.

Nesse momento comecei a acompanhar outro atleta, o Rodolfo. Descobri que era mais maluco que eu. Também estava no seu primeiro Ironman, mas diferente de mim, era também o seu primeiro Triathlon! Eu espantei! Esse rapaz é insano! Maluco de tudo! Conversando, entretanto, ele me disse que já treinava a muito tempo e que já havia feito várias maratonas aquáticas, andava de bike já alguns anos e já tinha corrido umas 7 ou 8 maratonas. Ok!? Talvez, sejamos igualmente loucos, eu nunca andei 180km de bike e nunca corri mais de 21km e estava ali. Ele de fato poderia até ser mais experiente do que eu, contudo, é bem diferente ter que fazer tudo em um só dia.

De fato, fazer as coisas individualmente é completamente diferente de fazer um triathlon no mesmo dia. A junção do nado, com a bike e a corrida e um desgaste que exige um condicionamento de adaptação do seu organismo que vem com o tempo. Nisso, eu pelo menos já me acostumei. Achei aquele carinha completamente maluco de encarar assim sem ter participado de outros triatlhons antes. Mas como tem doido pra tudo né, apoiei e tentei dar uma força pra ele também, por que ele parecia não estar muito bem.

Quando chegamos nos Alpes novamente tive que deixá-lo pra trás, afinal, tinha que me manter focado e manter meus 25 minutos por 10km. No entanto foi ótimo trocar uma idéia e diminuir a solidão um pouco. Rsrs

Perto do final dos Alpes, ouvi uma buzina. Olhei para o lado direito e avistei minha mãe, conduzindo o celtinha, e Lets! Ambas Sorrindo e acenando para mim! Sorri de volta e dei com a mão! Fiquei feliz em vê-las, mas já estava tomando cuidado para não desconcentrar, faltava pouco agora.

Cheguei nos 170km. Era isso! Agora era preparar para correr. Tomei mais um gel e aproveitei esses últimos momentos com a Josefina para alongar bastante.

180km! Nem acreditei! Havia conseguido! No total deu umas 7hrs e uns 3minutos de ciclismo, sem contar o pit stop e a corridinha pra transição. No oficial ficou 7hrs e 9 minutos! Ok! Perfeito! Achei que seria mais de 7hrs e meia! Então missão cumprida! Despedi de Josefina e agradeci por ter cuidado de mim e por nada ter saído errado!

E o melhor de tudo! Estava inteiro ainda! Meu plano havia funcionado! Apesar de meu saco estar doendo muito, muito mesmo! Mas nada que fosse atrapalhar...

Agora só faltava a maratona! E mais uma vez, eu não tinha idéia de como seria e de como meu corpo iria se comportar. Temia sofrer com as câimbras, como sempre, mas tentei pensar positivo!

Peguei a sacola amarela, troquei o short de ciclismo pelo de corrida, tirei a blusa de ciclismo e fui enfiando as coisas do ciclismo na sacola e tirando as coisas da corrida. Na hora que tirei as sapatilhas da bike, Uau! Meus pés estavam bastante inchados e encharcados, Brancos e gelados! Sequei bem eles, fiz uma rápida e leve massagem e coloquei as meias e os tênis.

O cenário ao redor era um pouco aterrorizante, muitos atletas estavam largados nas cadeiras com caras de desânimo. Alguns com muitas câimbras e dores na lombar e pescoço. Eu, surpreendentemente, voltei a me sentir bem, muito bem até!

Coloquei o boné, agarrei uma blusa de frio leve na mão, usaria caso sentisse frio apenas, e fui saindo. De repente, - Putz, cadê meus óculos!? Voltei para onde estava a sacola! Elas não mais estavam lá. Pensei que tivesse deixado dentro da sacola por engano. Fui falar com o carinha do Staff: -Será que dá pra achar a sacola 1640 aí no meio dessas milhões de outras!? Ele riu! – o que você quer!? Está procurando um óculos? Eu estranhei a pergunta. Ele então puxou de cima de uma cadeira os meus óculos. Ufa! Mais uma vez, quase os perco! Agradeci e me despedi.

Passei no banheiro químico pela segunda vez e sai da transição. Começava minha ultima jornada. 42km correndo! Como seria!? Havia corrido até então 21km no máximo. Seria uma avetura.

Comecei bem devagar, mas me sentia bem novamente. O dia estava indo de forma perfeita! Comecei a traçar minha estratégia novamente.

Os primeiros 3 km foram bastante demorados. O corpo realmente luta pra se acostumar a mudança drástica de atividade. Não é nada fácil, mas não sentia dores ou tonturas. Estava correndo no meu ritmo. No geral, concordei que seria um bom plano pensar em fazer os 42km em 6 horas. Daria 1hr e meia para cada 10km. Planejei, então, que minha primeira meta seria os primeiros 10km. Queria fazer em até 1hora e meia, se fizesse em menos tempo, ganharia tempo para o final.

Após o quilometro 7, meu corpo se adaptou a corrida e comecei a manter um ritmo de respiração mais constante. Isso ainda era Vital

Respira Sílvio, Respira! É Isso que vai te levar para a linha de chegada.

Perto do quilometro 10, eu senti minhas axilas e virilhas raspando um pouco. Parei um pouco e passei vaselina em tudo. Nesse momento, novamente uma buzina. Eram meus amores sorrindo! Lets perguntou: - Quer comida? Rsrs – Não, não! Valeu! Não sabia o que era.

Tirei o gelou do bolso, passei bastante nos joelhos, na coxa e nos tornozelos Tb e voltei a correr.

Esse pedaço da corrida no IRONMAN Brasil é traumático. Umas ladeiras anormais. Todos sobem andando e descem se segurando pra não cair.

Finalmente cheguei nos 10km, olhei para o relógio, 1hr e 10 minutos! Perfeito havia ganhado 20minutos para o final, pensei. Continuei correndo.

12km, 13km, 14km, 15km, ladeiras novamente. A volta pareceu mais rápida. Mas igualmente sofrida. O Sol estava se pondo agora. Um espetáculo que pude ver bem do alto do morro entre canasvieiras e jurerê.

16km, 17km, nessa hora, outra buzina, minha mãe e Lets passam de carro novamente, Lets gritou – Te amooo! E eu respondi em alto tom: - Também te Amooo!!! Aíii... não para de respirar maluco! Para de gritar! Mais a frente ela grita novamente – Está tudo bem!? E eu: - Excelente, gritando novamente! Para seu puto! Concentra! ... 18km, 19km, 20km, 1hr e 20, ufa, ganhei mais 10 minutos. Para a minha surpresa encontrei com elas novamente presas num cruzamento. Aproveitei para entregar a blusa de frio que carregava comigo, não estava com frio ainda e além disso havia deixado outra no Special Needs no quilometro 23. Disse para Lets que provavelmente chegaria em torno de 2:30 e meia a 3hrs e segui em frente.

Quilometro 21! Uauuu!! Só falta mais uma meia maratona agora! Duas voltas de 10,5km!!! Fiquei feliz! Ao passar pelo corredor, peguei a pulseira amarela. Uhuulll! Uma onda de felicidade tomou conta de mim. Ainda estava me sentindo muito bem! Tinha que conseguir manter o ritmo agora. Mas dessa vez sabia que seria difícil não fazer os próximos 10km em 1hrs e meia.

Ao passar pelo tumulto de perto da Ironman City, uma jovem muito empolgada gritava com palavras de incentivo a todos os competidores! Ao me ver ela quase me empurrou dizendo: - É Isso aí Silviooo!! Uhuulll vai láaa!! Continua fortee! Você vai ser Ironman.

Achei aquela jovem demais! Ninguém estava tão empolgado quanto ela. Passei por ela novamente duas vezes, e ela sempre com a mesma empolgação para com todos! Posteriormente, Apenas quando já estava aqui em Bsb, que minha ficha foi cair. Aquela “Jovem” era a famosa Fernanda Keller! Super Triatleta brasileira que foi competir no mundial de Ironman no Havai classificada simplesmente 23 anos consecutivos! A mulher é um monstro! O mais incrível, ela tem apenas 47 anos e pelo que me lembro bem, aparentava uns 25 no Máximo!

Enfim, voltando a história, cheguei no Special needs, peguei a sacola vermelha, tirei a blusa flets de dentro e segui correndo, não parei. Daí pra frente começou a fazer frio mesmo.

Os quilômetros agora estavam pesados. Custavam a chegar. Meu ritmo caiu. Não sentia dores, mas minha virilha começou a dar umas fisgadas por volta do quilometro 27. Tinha que diminuir mesmo o ritmo.

Quilometro 30! 1hr e meia cravado! Estava animado, faltavam apenas 12km agora. Ia conseguir fazer abaixo de 6 horas! Estava confiante!

Entretanto, na segunda volta de 10,5km meu corpo começou a variar sentidos. Comecei a sentir muita fome, mas não dava pra comer mais nada. Meu estomago estava muito sensível. Não queria aceitar nem água. Fiquei preocupado. Até ali na verdade, não havia comida nada sólido na corrida, indicação de todos, apesar de haver comida em todos os postos.

Comi apenas banana por causa do potássio para evitar as câimbras, mas a fome era implacável. Não havia consumido muitos repositores também. Acho que apenas 1 até então, estava a base de gatorade, coca cola, água e banana.

Nos últimos 10km eu cortei tudo. Passei a tomar apenas um gole pequeno de água em cada posto e mesmo assim a água batia no estomago como uma cachoeira forte. Estava morrendo de fome e super empanzinado ao mesmo tempo. Sensação super estranha que nunca havia sentido.

Tentei me concentrar ao máximo agora. Faltava pouco, muito pouco. A virilha cada vez mais ousava me ameaçar com seus puxões.

Quilometro 36! Mudei minha respiração completamente! Comecei a respirar bem vagarosamente e bastante profundo. Sentia o ar entrando e saindo. Quase todos os atletas restantes ainda estavam caminhando, eu, insistia em trotar. Respira Sílvio, Respira.

Fechei os olhos! Corri boa parte desses últimos 6km com os olhos fechados e concentrado apenas na respiração. Não tomei mais água e mais nada!

Quilometro 40!!! Uma onda de euforia começou a rondar meu corpo! O pessoal do Staff nos postos gritavam comigo e aplaudiam!! As pessoas na rua gritavam alto e me incentivavam! – É isso Aíi!! Tah chegando! Você é Um Ironman Garoto!!! Uhuuullll!!!

Um nó na minha garganta se fez, uma lágrima desceu! Perdi o ritmo da respiração e me controlei novamente! Passei pelo ultimo posto, todos aplaudiam e gritavam meu nome. Nessa hora eu soltei um estridente grito! Ahhhh!!!! HURRAHHH!!! Senti que bati demasiadamente forte na mão do Staff a minha frente! Mas todos continuavam sorrindo e comemorando minha chegada!

Quilometro 42! Faltavam alguns metros agora, entrei no corredor que conduzia a linha de chegada! Fechei os olhos, não acreditava! Era 21:22 da noite. Avistei minha mãe e Lets me esperando na entrada do portal da chegada!

Ao me avistarem as duas abriram o sorriso e começaram a pular!! Cheguei nelas, estavam eufóricas também. Agarrei a mão delas e disse: - Vem, Vem comigo!!! Minha mãe sorria alegremente e ambas arrancaram rápido demais. Minha virilha quase explode! Exclamei: -Pera, pêra, senão eu não chego, vai devagar!! Rsrsrs

3 metros restantes um sorriso nunca antes emitido! Ergui minhas mãos para o alto e cruzei a linha de chegada com minha mãe e minha namorada mais linda do mundo!

Havia completado o IRONMAN. Havia chegado ao fim daquela jornada indescritível. Uma jornada que você só consegue explicar de fato percorrendo aqueles 226km! Uma glória! Enfim, um dia para a vida toda.

Abracei minha mãe demoradamente, ela estava com lágrimas nos olhos.

Depois agarrei Lets.

Estava tão feliz.

Fui para a massagem. Ao lado da enfermaria. Cenário de guerra. Vários moribundos em macas sendo tratados e sofrendo. Soro na veia de muitos. Hipotermia para todo lado.

Eu, mais uma vez, por incrível que possa parecer, estava bem, muito bem! Me sentindo realizado e sem palavras. Sai da massagem, tentei tomar uma sopa e comer um pedaço de pizza. Em vão. Impossível comer. Estomago estava muito sensível. Resolvi ir embora logo.

Peguei minha camiseta de Finisher e minha linda medalinha e reencontrei com meus amores do lado de fora. Peguei as sacolas na tenda de transição e a Josefina também e seguimos para o carro.

No caminho, muitos ainda chegavam para completar. Minha ficha custava a cair. Ainda não caiu na verdade.

Acompanhei-as novamente no rodízio de pizza e voltamos para o hotel. Dormi tranquilamente e com um profundo sono. Contudo, não fui dormir da mesma forma que acordei. Estava diferente! Era diferente agora. Me sentia diferente. Algo havia mudado.

Eu acordei como um homem comum.

Fui Dormir como um IRONMAN!

Tudo é possível!

Terça feira – dia 01/06/2010

Na frente do meu computador no trabalho, pouco antes de sair para o almoço. Entrei no Site do IRONMAN Brasil e, novamente, respirei fundo. Preenchi todos os dados e imprimi o Boleto Bancário.

A jornada recomeça. IRONMAN BRASIL 2011. Lá vamos nós!

Respira Sílvio! Respira! :D